Como e por que ser defensor público
Um artigo do defensor Paulino Fernandes veiculado na Folha de Pernambuco
Uma sala repleta de pessoas que circulam a todo tempo; alternância de rostos ora satisfeitos, ora não, mais isso do que aquilo; uma porta que se abre para um novo pregão. É o cenário comum de um fórum ou tribunal. No mesmo espaço em que desfilam esses elementos, inúmeras pessoas desassistidas à espera de um milagre a la Stephen King.
Para quem sonha em trilhar a nobre missão de defender os pobres, deve imaginar que o diaadia do profissional é assim vivido. Nada de elemento surpresa como um filme de júri americano, porém nada mais incomparavelmente fascinante e encantador.
O exercício do defensor público vai além do mero encargo da causa, compõe-se necessariamente de um verdadeiro abraço na justiça e nos dela necessitados. Mais que a tensão que separa o assistido do momento da audiência ou da prolação de uma sentença, o defensor representa a esperança de que aquele não está sozinho.
Assim, não existe, seguramente, atividade jurisdicional que se revista de tanto amor quanto o de defender, especialmente defender, muitas vezes, o indefensável. Sim, pois a maior parte dos que precisam contar com a assistência de um defensor público, é composta de pessoas previamente desenganadas, seja pelo sentimento de inferioridade que o sistema compulsoriamente a elas impõe, seja pela desilusão natural que a muitos maltrata, por já terem sido alguma vez injustiçados.
Mas em meio a todo esse quase insuportável confronto, surge um aliado a seu lado. O defensor público deve ser mais que um profissional com conhecimentos jurídicos, deve sentir na pelé o que seu assistido sente. Deve possuir conhecimento de ciência , mas também de mundo. Deve também ser sedento de justiça, pois a ele compete a missão de levar ao juiz a causa de seu defendido, e tal percurso requer, acima de tudo, destemor, cautela e amor.
Tanto em outros países como no Brasil, a expressão Defensoria pública impõe respeito. Talvez seja o corpo de profissionais de maior credibilidade em nossos dias, se fossem realizadas pesquisas com a inclusão dessa função essencial à justiça (como a define nossa Constituição Federal).
No Estado de Pernambuco, já se revela notável a nova face que possui a Instituição, tributo, com justiça, a ser dado à nova e atual gestão. Não é preciso ir longe para termos notícia do trabalho realizado pela Defensoria Pública desse Estado. Os programas e as atividades hoje desenvolvidas aproximaram a população da Instituição. Ser defendido hoje por ela passou a ser questão de honra. Apesar do quantitativo de defensores nunca ser o bastante, cada um pode fazer o bastante para fazer justiça e a soma dessas batalhas resultará no ganho de guerra. Sempre digo que seremos no futuro o que do passado resultar da soma de nossas ideias, diminuída dos fracassos, multiplicada pelos esforços e divididas pelo merecimento.
* PAULINO FERNANDES é Defensor público do Estado, atuante nos juizados especiais cíveis de Recife; Professor universitário; Mestre em Letras; Pós-graduado em Estudos Literários e Culturais, em Docência do Ensino Superior e em Direito Processual Penal.
4 Comentários
Faça um comentário construtivo para esse documento.
É tudo o que eu quero ser na vida! continuar lendo
Agradeço o esclarecimento! continuar lendo
Há muito tempo eu almejo essa carreira, para poder oportunizar a muitos, que pouco ou nada têm, em se tratando de tutela jurisdicional. continuar lendo
Muito bom!!! continuar lendo